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20/06/04

A CIDADE PROÍBIDA

nas ruínas da cidade proíbida por ti esperei
pedras voltaram a cair e tu não estavas lá
o medo talvez te tivesse feito recusar o ingénuo convite
esqueci-me na tua ausência e embrenhei-me
por aquelas ruas malditas
em todo o lado surgiam recordações de uma
vida exuberante que o tempo e o passado
teimavam em asfixiar
deti-me por momentos junto a uma
pequena e esventrada janela;
vidros partidos e bocados de madeira
estendidos para a rua, à caridade
toquei-lhes levemente
senti um choque
e uma lembrança surgiu numa erecta tensão;
erecto dilema da humana fraqueza
aproximei-me um pouco, procurando um feminino
nú que absorvesse, da erecta tensão, as alturas
do desejo, tranformado, violentamente, em paranóia
desisti da ideia de me saciar, ali,
numa esventrada janela que apenas me masturbava a imaginação
e na imensidão da cidade proíbida penetrei
à frente do meu trémulo e último passo
vejo a tentação cair em forma de soutien: nº quarenta e 2
ele ali estava, negro e rendado, apontando para o finito
segui-o com o olhar talvez a esperança de
encontrar a essência que o possuiu até então
por momentos quis ser um soutien nº 42, preto e rendado
fui interrompido neste devaneio quando,
descendo como um páraquedas, umas cuecas
pretas e rendadas seduziram o horizonte libidinoso
que o meu olhar prescrutava
deixei de ter vontade de ser roupa interior feminina
e apenas queria possuir a mulher que ousou,
nas ruínas da cidade proíbida, seduzir-me
possui-mo-nos...

1993.12.23

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